Coisas que não gosto de Madrid

Pois é, meus caros! Chegou a hora de escrever aquele post tão esperado pelos haters e que eu sempre tive um medinho de escrever e me sentir incompreendida ou fútil, mas acho que depois de quase dez anos morando na Espanha já tenho direito de direito de assumir que há coisas que não gosto de Madrid. Sim, essa cidade é maravilhosa, mas é claro que não é perfeita e decidi reunir aqui aquelas coisas chatinhas das quais sempre acabo reclamando.

É importante ressaltar que esse texto é bem pessoal e em tom de brincadeira. Certamente Madrid tem muitos outros problemas bastante mais sérios do que menciono aqui, como uma enorme desigualdade social.

Claro que as opiniões contrárias às minhas são bem-vindas nos comentários, mas antes de vir com pedras na mão, pense que essa é a primeira vez que eu faço um texto assim nesses tantos anos de blog. Na verdade, Madrid deveria me nomear embaixadora da cidade no Brasil, rs!

Foto: Robert Tjalondo

Verão

Todos os defeitos de Madrid são minúsculos quando são comparados com o verão. Dizem que Madrid só tem duas estações: o inverno e o “inferno” e é bem por aí! De meados de junho a meados de setembro, as temperaturas podem chegar aos 40 graus e o calor seco é muito desagradável. Além disso, durante a noite, a cidade não refresca, o que faz com que seja muito difícil dormir se você não tem ar-condicionado. Quando você sai de casa às 2 da tarde, você passa a entender por que inventaram a siesta, já que é praticamente fazer algo nesse horário. Por ano, cerca de 1.300 pessoas morrem no país devido às altas temperaturas!

Os espanhóis sempre me dizem espantados: “ué, mas se você é brasileira, você devia estar acostumada, não?”. E a verdade é que, sendo de São Paulo, eu já enfrentei bastante calor, mas SP tem duas coisas que eu adoro: as tempestades de verão – exceto o trânsito e caos que elas provocam – e o fato de não fazer mais de 30º durante três meses consecutivos. Depois de quatro, cinco dias de calor sempre vem um dia mais fresco para dar uma folga.

Mas, sejamos sinceras, o verão madrileño é sempre horrível? Não! O verão também traz um monte de coisas boas, como as piscinas (especialmente se você tem a sorte de ter um amigo com uma!), as festas típicas e os festivais de música. Acho que esse ano de 2020 está sendo especialmente difícil porque não pudemos desfrutar de boa parte de tudo isso no verão.

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Distância da praia

Madrid está bem no centro da península, o que faz com que qualquer viagem à praia leve no mínimo umas 4 horas de carro. Vejam bem, não é que eu seja super fã de praia (porque não sou), mas saber que você tem uma praia a duas horas de viagem dá um baita alívio, especialmente no verão. Além disso, eu curto praia com um friozinho, mas aqui não faz muito sentido pegar a estrada por horas para chegar lá e nem poder entrar na água, não?

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Burocracia

Quando fiz o processo seletivo do Máster da Universidad Complutense e pedi o visto de estudante, eu já devia ter deduzido que a burocracia espanhola não era moleza, mas pensei: certeza que chegando lá vai ser mais tranquilo. Bueno… não exatamente! NIE, empadronamiento, renovação de NIE, nacionalidade, autorización de regreso, 2ª via dos documentos por roubo, pareja de hecho, arraigo social, carteirinha médica, Seguridad Social... cada vez que tive que fazer cada um desses trâmites já ia suando frio pensando que não ia dar certo de cara e, infelizmente, às vezes não dava certo mesmo, rs!

Especialmente no começo, a barreira do idioma e as diferenças culturais me faziam sofrer muito com isso. E é verdade, as coisas melhoraram, mas ainda acho que as coisas aqui poderiam ser bem mais simples.

Você pode estar pensando: “ué, e não há burocracia no Brasil?”. Sim e muita, mas lá a gente sempre pode pedir a ajuda de alguém, enquanto aqui, como imigrantes, exceto se você tem amigos que passaram pela mesma situação, você fica perdido com sites com informações diferentes, formulários e taxas.

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Custo de vida alto

Comparada a outras cidades europeias, Madrid não é especialmente cara, mas o custo de vida para quem trabalha e mora na cidade é bastante alto, especialmente o aluguel. Atualmente, o preço do aluguel por m2 em Madrid é de cerca 16€, o que significa que um apartamento de 50m2 custa 800€ por mês, sem contar os gastos com água, luz, internet. Tudo isso em uma comunidade onde a média salarial foi de 27 mil euros brutos por ano em 2018 (desconte os impostos para ver quanto sobra!). Segundo um site de aluguel de apartamentos, os madrileños destinam 55% do salário ao pagamento do aluguel.

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Atendimento

Esse talvez seja o ponto mais polêmico e no começo me fazia passar aperto, mas confesso que já nem tanto. Os espanhóis podem ter um jeito ríspido de falar na hora de atender alguém, seja num bar, restaurante, escritório público, médico, etc.

Quando cheguei, isso me deixava bem mal, mas com o tempo você vai aprendendo que não é nada pessoal. Dá saudade daquela médica simpática que você tinha no Brasil ou do garçom do bar preferido? Dá, mas com o tempo você se acostuma um pouco e digo um pouco porque ainda tem dia que fico chateada ou bem nervosa.

Mas, no geral, quando vou ao Brasil já me incomoda um pouco esse excesso de atendimento serviçal nos lugares, especialmente bares e restaurantes. Além disso, é claro que já tenho meus bares favoritos em Madrid e quando vou a um deles o garçom já me trata com o maior carinho (depois de ter dado algumas patadas nas primeiras vezes, rs!).

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Centro lotado no Natal

Ok, sei que este ponto é bem superficial, mas trabalho no centro de Madrid, bem perto de Sol, e essa região fica intransitável no Natal. Tenho que ir do escritório ao metrô desviando dos turistas tirando selfies, das famílias cheias de sacolas de compras, das famílias com crianças ansiosas para ver a Cortylandia e atenta à minha bolsa contra os carteiristas. Acabo levando 20 minutos para um percurso que levaria cinco.

Gran Vía na época natalina

Perguntei aos seguidores no Instagram do que eles não gostavam e as respostas foram bem parecidas, mas o Natam lembrou uma que eu tinha esquecido: as touradas!

Nem está tão mal…

Muita gente reclama, mas eu (já) não ligo:

  • Horários: me acostumei muito aos horários daqui e sim, eu janto às 22 horas!
  • Falar alto: participando dos churrascos da minha família paterna, eu já estava bem acostumada com isso!
  • Falar todo mundo ao mesmo tempo: era algo que me irritava muito no começo, mas hoje em dia eu aprendi que se quero que me ouçam, eu não posso ficar esperando a minha vez
  • Trânsito: morar perto do centro da cidade me permite fazer tudo a pé, de bicicleta ou usando o transporte público, quase sempre o metrô, por isso o trânsito daqui não me afeta. Além disso, antes de vir para cá demorava 1h30 nos trajetos de ida e volta do trabalho.
  • Metrô lotado: exceto em tempos de pandemia, quando a distância física é realmente necessária, acho o metrô daqui bem mais tranquilo que o de SP, mas eu entendo que para quem vem de uma cidade pequena pode ser caótico.

E vocês não gostam do que em Madrid?

Para compensar, deixo aqui dois posts que falam de coisas que adoro nessa cidade/pais: 10 coisas fáceis de se acostumar na Espanha e Balanço dos sete anos morando em Madrid.

4 Comentários em Coisas que não gosto de Madrid

  1. Concordo com todos!!! E adicionaria: a falta de lixo (na maioria dos lugares) e ralo no banheiro hahahaha

  2. Adorei o post, Lari e concordo com muita coisa!
    Pra mim a burocracia na Espanha é bem maior que no Brasil… Fora a falta de clareza nas informações e a maioria dos sites espanhóis serem bem ruins (eu não entendo por que ter tanto PDF em cada site…): para 1 informação que se busca, temos que ler uns 20 PDFs e cada um fala uma coisa.
    O post é interessante e importante, é bom falar do que não gostamos, porque tudo tem o lado bom e o lado ruim, né! Sempre bom saber.

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